Imagine a seguinte situação: Você vai ao supermercado para comprar um pacote de arroz. Enquanto está escolhendo de qual marca irá levar, de repente, surge um funcionário do estabelecimento para alterar o preço do item, para maior.
No momento você acha estranho, porém, continua no processo de escolha. Minutos depois o mesmo funcionário retorna para alterar o preço novamente. E isso acontece algumas outras vezes durante o dia. No dia seguinte você retorna ao local e percebe que o preço subiu demais.
Pois bem, esta era a situação mais comum em nosso país entre o final da década de 80 e começo dos anos 90. Esse período foi chamado de hiperinflação, que marcou toda uma geração e consequentemente alterou a forma da maioria das pessoas vivenciarem aquele momento, bem como a lida com o dinheiro.
Para se ter uma noção, a inflação do ano inteiro no país no ano passado ficou em 10,06%, o que é atualmente considerado uma porcentagem alta. No ano de 1989 a inflação bateu o 1.782% no acumulado do ano.
A pergunta que fazemos é a seguinte: como a situação chegou a esse ponto? Como o país sai dessa? A hiperinflação é algo que pode voltar?
1980, a década perdida
Após o superendividamento a economia do país desceu ladeira abaixo. Em 1981, foi lançado pelo governo vigente um programa que visava a estabilização da economia, no entanto, não deu certo. As dívidas se encontravam em valores muito altos e, devido ao receio de calote, o FMI cessou os empréstimos.
Diante disso, a dúvida era: com qual dinheiro as contas serão pagas? Então, a decisão foi emitir títulos da dívida pública, que os investidores podiam adquirir. Obviamente que os juros eram exorbitantes, já que, se não fosse assim ninguém ia querer realizar esse investimento de risco alto.
Foi um erro grave comprometer as contas com juros elevadíssimos que estavam vinculados à inflação. Isso custou caro para o país. A dívida interna pulou para 50% do PIB, e com isso piorou os prazos para quitação dos pagamentos. Para alguns pesquisadores, isso apenas evidenciava o quanto o país estava sem crédito e a economia totalmente estagnada.
A solução para a hiperinflação.
O que resgatou o país desse atoleiro foi o surgimento do Plano Real. De acordo com o núcleo de Economia da UFRJ, outros fatores contribuíram para essa melhora, como, por exemplo, a renegociação da dívida externa e o PIB crescendo. O que tirou o Brasil desse atoleiro foi o Plano Real.
Na época foi criada uma unidade de medida denominada Unidade Real de Valor, ou URV, que servia de balizadora para a economia e estava atrelada ao dólar. Com isso, mesmo que os preços estivessem em Cruzados, eles continuavam seguindo a tabela da URV que era fixa.
No ano de 1994 o URV passou a ser moeda, e virou o real que conhecemos atualmente. Graças à reserva cambial que a partir dos programas de privatização foi sendo criada, o governo conseguiu segurar o câmbio do dólar no mesmo patamar que o real, o que ajudou no momento de pagar as dívidas externas e atenuar o problema da hiperinflação. Dessa forma, ela se estabilizou em níveis recomendáveis.
Há risco da hiperinflação voltar?
Como a economia de um país é algo vivo e dinâmico, não é possível afirmar categoricamente que a hiperinflação nunca mais vai acontecer. Isso pode sim voltar a ser realidade novamente. Atualmente existem países que estão enfrentando um cenário de hiperinflação.
O Sudão é um exemplo. Em 2021 o país encerrou o ano com 340% de inflação. Provavelmente você já deve ter visto imagens que viralizaram comprando produtos básicos com pilhas de cédulas que nem mais são contadas, mas sim pesadas para se obter um valor aproximado.
Contudo, não precisamos fazer alarmismos por enquanto. Se existe um elemento positivo na crise vivida nas décadas de 80 e 90 é que com o erro se aprende. Um cenário como esse não ocorre do dia para a noite. Sendo assim, no momento não existe risco dessa realidade ser vivenciada novamente por aqui.
Conclusão
A hiperinflação é um fantasma que assombra e assusta muitos países. Infelizmente não é possível garantir que uma vez passado por ele nunca mais ele irá aparecer. É preciso de uma economia estável e saudável para garantir que esse risco continue longe o suficiente.